Quando a polémica relativa à instalação do TGV e ao esquartejamento das localidades contempladas com o corredor de passagem parece esmorecer, talvez seja oportuno alertar as autoridades competentes para o estado da rede ferroviária do concelho feirense: não faz muito tempo, a CDU alertava em sede da Assembleia Municipal o executivo para o estado de degradação da Linha do Vale do Vouga (LVV), o Vouguinha, dando deste modo voz às necessidades dos utentes que diariamente dela se servem. Daqui resultariam encontros com os responsáveis nacionais da REFER, entidade que tutela (de Lisboa...) a LVV, tendo-se os mesmos comprometido com a dotação da linha de dispositivos de segurança que prevenissem mais acidentes neste troço ferroviário que é já, lamentavelmente, recordista nacional em matéria de sinistralidade. Alguns meses volvidos, continuamos a aguardar...
Mas atenhamo-nos à qualidade do serviço, mensurável na frequência das circulações: ainda que todos saibamos que o material já apodrece sobre os carris, e que as carruagens são manifestamente obsoletas, não oferecendo as mínimas condições de conforto exigíveis, menos razões teríamos para reclamar, desse-se o caso de estarmos servidos de um horário conforme às necessidades dos utentes, baseado em compromissos de regularidade e assiduidade, que permitisse aos utentes uma utilização quotidiana, como qualquer meio de transporte colectivo, onde o pressuposto de utilização é um tempo de espera que permita ao utilizador, mesmo ignorando os horários de passagem, dirigir-se à estação que mais lhe convier e aguardar a próxima circulação, na convicção de que tal não comprometerá fatalmente os seus horários pessoais... Nada se passa assim no Vouguinha. Não obstante o percurso entre Oliveira de Azeméis e Espinho ter a duração de uma hora; não obstante o fim da linha, na estação de Espinho, se encontrar a cerca de quinze minutos (a pé) da estação ferroviária principal (o que torna qualquer tentativa de ligação uma verdadeira corrida de estafetas...); não obstante a falta de ventilação no interior das composições, que torna a ida à praia de comboio, no Verão, uma verdadeira sauna, temos ainda que contar com intervalos na frequência das circulações na ordem das duas a três horas, que tornam qualquer pretensão de serviço público de qualidade... uma piada.
A descredibilização dos serviços públicos é um processo vergonhoso, mas conhecido de todos. É evidente que uma estratégia de reabilitação da Linha do Vale do Vouga que passasse pela requalificação das estações e apeadeiros, pela renovação do material circulante e pela contratação de pessoal para assegurar a manutenção e funcionamento das estações (e impedir que esta se torne uma “linha-fantasma”: observe-se a estação de Espinho-Vouga, com portas e janelas cobertas por cimento...), não só imprimiria uma nova dinâmica a esta linha, com o decorrente aumento do número diário de utentes, como também constituiria uma oportunidade de criação de novos postos de trabalho nos concelhos abrangidos pela Linha (e não é este uns dos principais argumentos aduzidos em defesa do TGV?), traria um potencial de mobilidade passível de criar novos focos de habitação junto das estações (veja-se o caso da Linha do Norte e o surto habitacional nas imediações de algumas estações), e viria ainda estimular o comércio tradicional nas cidades e vilas entre Espinho e Aveiro por onde passa, já que muitos dos núcleos urbanos que hoje conhecemos na extensão da Linha tiveram a sua origem associada à passagem do comboio, e correm agora risco de colapso.
Mas factores desta ordem parecem não merecer a consideração dos responsáveis, que, rendidos à lógica dos números (e uma lógica desprovida de sentido: ou acaso julgarão que o número de utentes é directamente proporcional ao estado de degradação das estruturas?), se escudam numa posição economicista norteada pela obtenção de lucro, indiferentes às necessidades dos utentes, cingindo a intervenção a operações cosméticas e à instalação de dispositivos de segurança cuja (ainda) inexistência deve ser categoricamente censurada. E é assim, de carruagem (mal) graffitada em estação a cair aos bocados, que se tece a descredibilização da LVV, até que a sua manutenção pareça injustificável, e o encerramento imperioso – momento em que algum operador privado se servirá do trajecto criado pelo hábito de mobilização das populações para instalar uma rede de transportes exclusivamente orientados para a produção de lucro... E os feirenses sabem do que falam quando se referem a redes privadas de transportes colectivos com elevados preços e sem vestígios de qualidade...
PS: Se dúvidas persistirem quanto à validade das reclamações que aqui fomos deixando, diremos, como testemunho em abono dos argumentos, que o presente artigo de opinião foi redigido durante a espera pela próxima passagem do Vouguinha, na manhã de um dia útil, que com estes tempos de espera o deixa de ser... (Estação de São João de Ver, Outubro de 2008)
Mas atenhamo-nos à qualidade do serviço, mensurável na frequência das circulações: ainda que todos saibamos que o material já apodrece sobre os carris, e que as carruagens são manifestamente obsoletas, não oferecendo as mínimas condições de conforto exigíveis, menos razões teríamos para reclamar, desse-se o caso de estarmos servidos de um horário conforme às necessidades dos utentes, baseado em compromissos de regularidade e assiduidade, que permitisse aos utentes uma utilização quotidiana, como qualquer meio de transporte colectivo, onde o pressuposto de utilização é um tempo de espera que permita ao utilizador, mesmo ignorando os horários de passagem, dirigir-se à estação que mais lhe convier e aguardar a próxima circulação, na convicção de que tal não comprometerá fatalmente os seus horários pessoais... Nada se passa assim no Vouguinha. Não obstante o percurso entre Oliveira de Azeméis e Espinho ter a duração de uma hora; não obstante o fim da linha, na estação de Espinho, se encontrar a cerca de quinze minutos (a pé) da estação ferroviária principal (o que torna qualquer tentativa de ligação uma verdadeira corrida de estafetas...); não obstante a falta de ventilação no interior das composições, que torna a ida à praia de comboio, no Verão, uma verdadeira sauna, temos ainda que contar com intervalos na frequência das circulações na ordem das duas a três horas, que tornam qualquer pretensão de serviço público de qualidade... uma piada.
A descredibilização dos serviços públicos é um processo vergonhoso, mas conhecido de todos. É evidente que uma estratégia de reabilitação da Linha do Vale do Vouga que passasse pela requalificação das estações e apeadeiros, pela renovação do material circulante e pela contratação de pessoal para assegurar a manutenção e funcionamento das estações (e impedir que esta se torne uma “linha-fantasma”: observe-se a estação de Espinho-Vouga, com portas e janelas cobertas por cimento...), não só imprimiria uma nova dinâmica a esta linha, com o decorrente aumento do número diário de utentes, como também constituiria uma oportunidade de criação de novos postos de trabalho nos concelhos abrangidos pela Linha (e não é este uns dos principais argumentos aduzidos em defesa do TGV?), traria um potencial de mobilidade passível de criar novos focos de habitação junto das estações (veja-se o caso da Linha do Norte e o surto habitacional nas imediações de algumas estações), e viria ainda estimular o comércio tradicional nas cidades e vilas entre Espinho e Aveiro por onde passa, já que muitos dos núcleos urbanos que hoje conhecemos na extensão da Linha tiveram a sua origem associada à passagem do comboio, e correm agora risco de colapso.
Mas factores desta ordem parecem não merecer a consideração dos responsáveis, que, rendidos à lógica dos números (e uma lógica desprovida de sentido: ou acaso julgarão que o número de utentes é directamente proporcional ao estado de degradação das estruturas?), se escudam numa posição economicista norteada pela obtenção de lucro, indiferentes às necessidades dos utentes, cingindo a intervenção a operações cosméticas e à instalação de dispositivos de segurança cuja (ainda) inexistência deve ser categoricamente censurada. E é assim, de carruagem (mal) graffitada em estação a cair aos bocados, que se tece a descredibilização da LVV, até que a sua manutenção pareça injustificável, e o encerramento imperioso – momento em que algum operador privado se servirá do trajecto criado pelo hábito de mobilização das populações para instalar uma rede de transportes exclusivamente orientados para a produção de lucro... E os feirenses sabem do que falam quando se referem a redes privadas de transportes colectivos com elevados preços e sem vestígios de qualidade...
PS: Se dúvidas persistirem quanto à validade das reclamações que aqui fomos deixando, diremos, como testemunho em abono dos argumentos, que o presente artigo de opinião foi redigido durante a espera pela próxima passagem do Vouguinha, na manhã de um dia útil, que com estes tempos de espera o deixa de ser... (Estação de São João de Ver, Outubro de 2008)
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