02 julho, 2009

Carta aberta ao Abade de Caldas de São Jorge

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De há uns tempos para esta parte tem o abade desta terra tomado posições tão parciais como  contestáveis no dizendo respeito não à actividade pastoral, mas muito mais tocando as actividades mais laicas e terrenas que se possam imaginar, e dando a uns de que gosta, ou porque o lambuzam ou porque os lambuza, um tratamento de éden, enquanto trata outros de quem, supostamente não gosta, mesmo que os não conheça, nem mesmo no que respeite às questões de fé e práticas religiosas. Rejeita-os ou porque lhe disseram que não vão nas celebrações, ou porque os não vêem com regularidade nessas celebrações e rejeita-os sobretudo porque entende que são contra aqueles que o lambuzam ou são lambuzados. Tem que registar que muitos dos seus paroquianos recusam assistir a celebrações a que presida, ou porque não aceitam a pesporrência que faz dimanar até nos gestos, ou porque temem ter de lhe dar uma resposta directa e de viva voz, mesmo que seja no templo.

E sobretudo nos últimos tempos a sua parcialidade torna-se de todo impertinente tomando posição e mesmo incitando a que o representante da autarquia transgrida aberta e claramente não só a lei da República (a tal que segundo certo ponto de vista foi ilegal), como transgrida a norma mais básica da convivência entre cidadãos. A pretexto de executar uma obra que é respeitável, pensada, de resto, há dez anos ou mais e por gente outra que não esta, incita a que se use um terreno que é de um cidadão originário de cá e cá não morador e colabora na mentira de se tentar fazer constar que esse cidadão havia doado esse quinhão de terreno. Um acto de tal calibre nunca tem justificação, mesmo que se destinasse a uma utilização de primeira grandeza. De cariz religioso ou outro. Tal incitamento, comprovado, de resto, nunca seria recomendável em ninguém, mas num “pastor” é abominável. Faz sentir que é mais um pastor de pastorícia do que pastoral.

Mas o que mais me trouxe à escrita desta carta foi um aspecto mais terreno ainda e mais novo. Tem a ver com a divulgação política, seja de âmbito nacional ou local e, no mesmo sentido, tem a ver com a liberdade de expressão e manifestação de opinião, sentimentos que não abundam muito no íntimo do endereçado.

Tem-se o Abade de Caldas de S. Jorge manifestado parvamente contra um placard politico fixado no arraial da vila termal, insinuando todas as maldades que enfeitarão quem o mandou lá colocar e todos os que o não repudiem. Terá que interiorizar que, sendo aquele local do domínio público e não tendo a Câmara Municipal posto qualquer entrave de ordem legal, paisagístico, ambiental ou outro qualquer, o Abade e os outros residentes só terão que aceitar, tendo sempre a liberdade de desviar o olhar se porventura a cor, o teor da mensagem ou qualquer outra faceta os faz afligir.

Tem o Abade de Caldas de S. Jorge, como qualquer outro cidadão livre, de aceitar as determinações da lei e, porque pároco, teoricamente condutor e ensinador de pessoas, diz-se que usa muito mais o cajado do que a cruz, fica com obrigação redobrada. Mas, helas!, diz-se que o única coisa que o perturba é a receita. Se, mesmo sem ter obrigação, os homens que escolheram aquele placard e aquele local, tivessem metido uma quantidade de euros dentro de um envelope, tudo ficaria bem e na paz dos anjos. Foi o Abade que deixou isso mesmo escrito relativamente a outro placard, também politico/partidário, colocado no mesmo sítio, por um partido considerado bem mais radical, só que soltou a prisão da bolsa dos dinheiros. Com generosidade. Tal atitude faz cogitar que o homem usa lentes que têm gravado o símbolo do euro (€). E transtorna tudo.

Ilustre, ou nem tanto, Senhor. Não foi ninguém desta terra de Caldas de S. Jorge, e saliento que V. não tem o exclusivo do prazer de ver a terra ser grande, que escolheu nem o painel nem o local. Mas estou, e estão muitas outras pessoas, solidário com quem fez a escolha.

Para terminar gostaria de lembrar que o Pároco, enquanto cidadão é livre de optar e, fora do altar libérrimo de vender a sua ideologia, perdendo tal liberdade quando na tribuna do altar, a partir donde tem de respeitar todos quantos estejam diante de si e que, naturalmente, têm pensares e opções distintas.

Telmo André dos Santos Gomes

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