
“Esta sessão acontece quando se tornam visíveis aos olhos de todos as consequências da falta de planeamento e prevenção do executivo. O inverno rigoroso provou uma vez mais que a acção de planeamento e prevenção deste executivo são escassas ou inexistentes, e, se a chuva deixou a descoberto o estado miserável das nossas vias, esventradas e mal cosidas no processo tardio e lento de construção do saneamento, aqui e ali surgem sintomas da insustentável política de exibicionismo e superficialidades a que nos querem habituar.
A CDU não pode, porém, deixar passar em branco os casos de desleixo que a Câmara vai empurrando para debaixo do tapete, e, se o nosso compromisso com os feirenses não é bissexto, a nossa intervenção será constante e empenhada em dar voz aos problemas das pessoas, através de uma presença e de uma proximidade que testemunham que a nossa razão de existir não são as eleições, mas os feirenses.Um desses sintomas é o estado da Casa da Mala-posta, em Sanfins. No espigueiro, uma placa a dizer “Vende-se – Casa da Mala-posta” com um número privado ao lado assinala um dos últimos três edifícios classificados como património de interesse público da rede setecentista de estações de muda da estrada real. Consideramos que a rigorosa inércia deste executivo no que toca à preservação e qualificação do edifício histórico diz muito da ética política que a câmara municipal cultiva. A casa da Mala-posta constitui uma oportunidade singular de criação de um centro de estudo histórico e divulgação cultural, tem elevado potencial de atracção turística, tem valor arquitectónico raro, possibilidades pedagógicas promissoras, constitui um desafio para a conjugação de sinergias em torno da memória do nosso concelho e, acima de tudo, confronta-nos com o dever ético de preservar o que é da nossa responsabilidade comum. Mas estes argumentos não falam a língua dos interesses estratégicos da câmara da Feira: se um evento de uma semana granjeia mais exposição mediática, ser-lhe-á dada primazia, ofuscando todas as possibilidades de desenvolvimento de uma política cultural continuada e sustentada, que não pense só no imediato, mas que se empenhe em criar um legado útil aos vindouros.
Em resposta a pergunta colocada pel' Os Verdes, a Ministra da Cultura afirma ter conhecimento desta preocupante situação, e informa ter dela dado conhecimento à Câmara Municipal, tendo manifestado disponibilidade para apoiar qualquer iniciativa que salvaguarde e valorize a casa da Mala-posta. Daqui reforçamos a nossa inquietação: a população feirense não merece que a sua memória seja desrespeitada desta forma, e insistimos na necessidade de construção de soluções, assentes num projecto de (re)integração da casa da Mala-posta na vida e no fluir do Concelho.
Por outro lado (isto é, pelo mesmo), a rede escolar do concelho continua a acumular casos de evidente incúria pela parte do executivo municipal. Ao problema dos contentores – sobre os quais nos dizia, recentemente, uma professora: «Cola-se o papel na parede, mas se estiver molhada, cai...», e que fazem o nosso parque escolar parecer o porto de Leixões – somam-se situações de perigo público que merecem a nossa atenção. A escola EB1 do Outeiro, em Rio Meão, sem qualquer sinalização de trânsito indicando a aproximação de escola, nem uma simples passadeira que acautele a segurança dos alunos e demais peões. O novo Centro Escolar do Murado em Mozelos continua sem as condições mínimas de dignificação de uma instituição de ensino, e, já em Janeiro, a água continuava a faltar. Não deve ser difícil a nenhum dos presentes imaginar o caos que resulta de uma escola sem autoclismos, água nas torneiras, sem água na cozinha... As bermas da rua de acesso são autenticas crateras, a iluminação no logradouro da escola é precária, e, entre tantas deficiências estruturais, perguntamo-nos se haverá, ainda, espaço e condições para se ensinar e aprender.
Parece, com efeito, que a única missão que merece o estreme e denodado esforço da nossa Câmara Municipal é a sua autopromoção política em calendário eleitoral. O jornal de campanha permanente dos protagonistas locais do PSD, intitulado “Boletim Municipal”, cujo desrespeito pelo pluralismo democrático e unilateralidade mereceram a crítica da CDU e motivaram uma queixa à ERC, recebeu agora, por via da resposta desta Entidade, uma recomendação de “maior abertura a todas as orientações políticas que intervêm na vida pública da autarquia”. É com profundo pesar que observamos que, mais de três décadas após o 25 de Abril, recomendações deste tipo já não deveriam ser necessárias. Talvez a democracia local feirense seja um adulto que vive ainda prolongada a fase adolescente.
E, já que apresentaremos uma moção sobre o tema, gostaríamos de deixar aqui palavra acerca do PIDDAC. Não se fazem omeletas sem ovos. Queremos sublinhar o desajuste da verba que é destinada ao concelho às necessidades reais que se fazem sentir, e talvez baste a consideração de alguns factos para isso se tornar óbvio:
- A verba destinada a “resolver” o problema das pedreiras de Lourosa, cinco mil euros (ainda considerámos a hipótese de se tratar de gralha, e faltar um ou mesmo dois zeros), deve ter sido pensada apenas para cobrir os primeiros gastos em papelada. Se a análise providenciada pela FCUP apontava uma solução de custo mínimo no valor de 1 M e 100 mil euros, não nos parece que a CM esteja verdadeiramente empenhada em resolver este ponto negro no ambiente. Ainda mal. Como é sabido, a água dos poços da população circundante nem para rega é aconselhável, e o caso corre o risco de seguir para o tribunal europeu do ambiente.
- Para a escola EB23 e Secundária da Feira apresenta-se uma verba que não chega sequer para cobrir os custos do terreno.
- É ilustrativo das preocupações que movem o PS e o PSD observar que uma festa como o “Terra dos Sonhos” custa o correspondente a um quarto do PIDDAC que nos é destinado...”
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