03 junho, 2010

CDU- Intervenção na Assembleia Municipal

image por Pedro Almeida
Não posso deixar de começar por notar a estranha ironia deste que é o Ponto Único da reunião. Sabendo que esta sessão extraordinária foi convocada na sequência de requerimento emanado do grupo local do PS, e sabendo que o mesmo grupo local do PS tem agitado como bandeira de luta a recusa de um aterro sanitário em qualquer das freguesias do Concelho, é no mínimo irónico que este PS tenha pedido a convocatória de uma Assembleia para discutir, e cito, qual será a “localização de um aterro sanitário no Concelho de Santa Maria da Feira”



Esta e outras incoerências exigem que deixemos bem claro o que está aqui a acontecer. A política não é, não pode ser uma estratégia de manipulação de populações a troco de votos e poder. A nossa Câmara, como já vem sendo hábito, escuda-se numa atitude de sobranceira arrogância, limitando os esclarecimentos a declarações lacunares e inertes; não tomando uma posição crítica e esclarecedora; resistindo a envolver as populações no debate sobre a necessidade de construção de um aterro sanitário, e vindo a público, ora pela figura do Senhor Presidente, ora pela figura do Vereador Emídio Sousa, lançar curtas e taxativas declarações de fatalismo, que nos fazem perguntar para que serve, afinal de contas, o Executivo Municipal. Perante o estudo do IDAD (Universidade de Aveiro) que apontava, paralelamente a Canedo, Caldas de S. Jorge/Pigeiros como possível localização de um aterro sanitário, a nossa Câmara PSD comportou-se infantilmente, tal como uma criança mal comportada que bate nos meninos mais pequenos, e diz que se não a deixarem continuar, passa a bater nos meninos grandes. O executivo entendeu que a construção de um aterro na zona termal das Caldas podia funcionar como um fait diver político, uma manobra de diversão para fragilizar a oposição à construção de um aterro em Canedo. A Câmara sabe perfeitamente que sugerir a instalação de um aterro sanitário na zona termal das Caldas equivale a sugerir a instalação de um aterro sanitário no parque envolvente das Piscinas Municipais da Feira. É uma hipótese obviamente imponderável, e sentimo-nos insultados na nossa razoabilidade por este jogo de “entre dois, o menos mau”. Sentimo-nos insultados, e os feirenses não deverão tolerar à sua Câmara Municipal um comportamento destes. O executivo sabe perfeitamente que o aterro jamais iria para as Caldas, mas, mesmo assim, manteve o silêncio quanto a essa possibilidade, como forma de facilitar a argumentação a favor da «hipótese Canedo». Não iremos, como faz o PS, exaltarmo-nos contra a possibilidade de uma tal localização, e tão simplesmente porque não subestimamos a inteligência da Câmara a ponto de acreditar que essa proposta seria sinceramente aceite. É óbvio que nunca passou pela cabeça de nenhum dos membros do executivo instalar o aterro nas Caldas. E é justamente por terem utilizado o silêncio como manobra política que denunciamos a total falta de ética democrática da conduta da Câmara. Sublinhamos: não podemos tolerar que pensem que a população é tão ingénua que não interprete esse silêncio, e não compreenda o golpe de cartas que ele encerra. Por outro lado, a Câmara PSD sabe, e sabe bem, que nunca investiu no tratamento de lixo, deixando para as situações extremas a solução desta questão. Contra todas as recomendações da CDU, a separação do lixo no domicílio dos utentes não é estrategicamente incentivada. E, o que é pior, andámos a meter o lixo num buraco da encosta em Canedo durante décadas; tínhamos uma lixeira na margem de um dos afluentes do rio Douro, e contaminámos durante anos, e ainda hoje, o rio Inha e os lençóis freáticos de Canedo com lixiviados. E, sublinhe-se, com isto o PS nunca se preocupou! E quando a CDU denunciou a situação, quando dissemos que já havia algas criadas pelos lixiviados, o PS ria-se!

Com amigos destes, a população de Canedo não precisa de inimigos.

Mas a politiquice do nosso PS vai mais longe. Sabemos que as condições de possibilidade de adesão à LIPOR são praticamente nulas. Segundo o PERSU, a incineração não é cabimentada como esforço de redução do CO2, logo, não há qualquer participação comunitária. Acresce ainda a necessidade, mediante a eventual entrada do Município da Feira, de construção de um parque intermédio no Concelho (E veja-se a contestação popular que os parques intermédios existentes inspiram). E aí, o PS continuaria a dizer que o parque intermédio também teria que ser fora do Concelho?

Além disto, nunca nos podemos esquecer de que a palavra final será do governo central, do governo central que é o mesmo Partido Socialista que aqui encena a sua oposição. É por esta razão que não podemos aceitar que esse mesmo PS transforme esta Assembleia no palco da sua declaração de vontades. Além de demagógica, essa é uma atitude hipócrita. Caríssimos Senhores, quem vai decidir verdadeiramente onde fica o aterro sanitário é o Ministério do Ambiente, ou seja, o mesmo PS que traz aqui cidadãos a manifestarem o seu descontentamento!

A resolução política deste problema é, contudo, bastante fácil. Basta dizer que o aterro sanitário fica fora do Concelho. Mas isso não resolve nada. Se Gaia aceitar a construção do mesmo aterro a cinquenta metros da fronteira com Canedo, vamos todos para a Assembleia Municipal de Gaia exigir que o coloquem mais para o lado deles?

Somos parte do problema, teremos que ser parte da solução. Respostas como “no meu quintal, não” só nos afastam de soluções concretas.

É preciso começar, portanto, por admitir que o lixo não tem que ser um problema, ele é, potencialmente, uma riqueza. Basta, para tanto, que seja tratado de forma produtiva. Todo o lixo é matéria-prima. Estamos hoje a vender anualmente toneladas de plástico usado à Índia. Plástico que, depois de passar pela indústria de reciclagem e produção da China, regressa a nossas casas, sob a forma das bugigangas e acessórios de baixo custo que compramos nas chamadas “lojas dos chineses”. E depois perguntamos porque razão conseguem eles vender tão barato, quando a reposta está aqui tão perto.

Num concelho eco-eficiente, o lixo irrecuperável, o único que precisa de ser depositado em aterro sanitário, representaria apenas cerca de sete quilos por ano, por cada habitante, o que significa resultados de deposição de 18 a 30 por cento.

É urgente, a nível local, a implementação de uma estratégia de educação ambiental, acompanhada de um investimento sério e consequente em medidas de valorização dos resíduos, numa aposta clara na construção de um Concelho eco-eficiente.

Não podemos deixar de notar que o envolvimento dos cidadãos na definição da estratégia ambiental do Concelho permanece uma utopia. À boa maneira do PSD, tudo se passa nos bastidores, à margem das populações. É por isso que queremos aqui insistir na urgência da instalação da Comissão de Acompanhamento para a consideração da questão do aterro sanitário, Comissão cuja criação a CDU veio propor a esta Assembleia em 29 de Dezembro de 2008, tendo sido aceite com o aval de todos os partidos políticos. À Comissão de Acompanhamento, composta por cidadãos residentes nas áreas apontadas, membros dos partidos políticos, detentores de cargos do poder local e um representante da Suldouro, compete mediar as populações e os órgãos com poder de decisão, no sentido de uma discussão produtiva, informada e participada, que é tudo o que não houve, até agora.

Enquanto não houver transparência, envolvimento das populações e honestidade democrática, continuaremos a assistir a esta encenação política orquestrada a contraponto pelo PS, e a um empurrar o problema de um Concelho para outro, de uma freguesia para a freguesia vizinha. Não estamos numa gala nem numa competição de retórica, e o PS não se pode esquecer disto. A seriedade que nos é exigida não permite que façamos trinta e uma Assembleias Extraordinárias, para no fim decidir por sorteio a localização do aterro sanitário.

Uma das coisas que nos deve ensinar o Monumento ao Espírito Feirense é que a verticalidade das nossas gentes assenta numa consciência de conjunto sólida. A harmonia do círculo e o aprumo de cada bloco de pedra permanecem enquanto permenecer, a uni-los, a rede invisível que levantou esta comunidade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Esquecer a palavra "EVENTUAL " localização do ATERRO, é má fé para quem está a dar os primeiros passos na política. Começa mal pois malabarismos são no circo e aí o kouzas tem razão...

Anónimo disse...

Melhores cumprimentos,

Apesar de muito apreciar a sua escrita, não posso deixar de ficar perplexo com algumas das reflexões que nela aparecem expressas.
De facto, ao contrário do que afirma, outra coisa não encontramos na política, senão uma contínua e despudorada estratégia que se socorre de argumentos mais ou menos lícitos, com o objectivo de manipular as populações em troca de votos e de poder.
Sendo este um fenómeno transversal a todo o espectro político português e refiro-me naturalmente á necessidade óbvia de manipular a todo o custo as populações, alguns desses partidos, sobretudo os de menor dimensão só vão conseguindo subsistir nesta amálgama de pretensas boas intenções, por se terem especializado principalmente ao longo destes últimos anos, na arte de bem carpir a desgraça, seja ela qual for, venha ela donde vier.
Dando de barato estes desideratos, e centrando-nos nós no problema que aqui nos trás, e que é a instalação de um Aterro Sanitário no concelho, permita-me dizer-lhe que esta questão encerra em si mesmo uma certa medida de complexidade que contrariamente ao que seria de esperar apenas tem produzido na população e por simpatia endémica , efeitos de natureza predominantemente psicológica, ou dito de outra forma e parafraseando-o, o que a maior parte das pessoas sabe sobre este assunto é que lixo, “…no meu quintal, não”.

Não pretendendo ser exaustivo na minha apreciação ao seu post, até porque há uma série de ângulos de abordagem ao problema que estão longe de estarem potenciados, deixe-me apenas dizer-lhe que o PS local, enquanto partido responsável para com o seu eleitorado mais não fez do que dar voz e expressão a um conjunto significativo de cidadãos ( senão mesmo todos )que contestam a instalação do futuro Aterro Sanitário em Caldas de S. Jorge/ Pigeiros.
Esta é de facto a sua principal missão, e independentemente de alguém poder interpretar esta iniciativa como uma qualquer forma de manipulação, há no final de tudo isto uma verdade incontornável. É que da habitual contabilidade que a CDU faz das suas intervenções na Assembleia Municipal, sobretudo em períodos pré eleitorais, esta em particular não irá certamente constar como sendo iniciativa sua.

Termino com uma breve referência ao seu último parágrafo.
È verdadeiramente digno de um discurso de tomada de posse e acredite que estou a ser sincero.
Pena que nas rotundas ainda se circule pela direita.
...E carpir não tem adiantado muito

Atenciosamente

bettencourt