Assistimos na semana passada à discussão sobre o pagamento de portagens nas SCUT. Assunto caro aos feirenses, de facto. A nós, feirenses, rodeados agora por estradas portajadas e por uma Nacional 1 intransitável, quase em decomposição, perigosa e que não consubstancia qualquer alternativa viável para quem tem que trabalhar todos os dias.
As contas são simples. Quem faça o troço Estarreja -Porto duas vezes por dia (ida e volta, portanto), gastará por mês, só em portagens, 230 euros por mês. Deve ser para combinar com os 23% do IVA. Do IVA no leite, nos iogurtes, nos óleos alimentares e por aí. Tudo em nome de sacrifícios. Só que quem paga são sempre os mesmos, os que menos podem e menos têm.
E ouvimos o PSD a falar em “coerência”. Falemos então de “coerência”. Da “coerência” do PSD, PS e CDS-PP que, nas Assembleias Municipais do distrito de Aveiro e na Assembleia Metropolitana do Porto, votaram contra a introdução de portagens.
Da “coerência” do PS e PSD que nas localidades, até recorreram mesmo ao Tribunal Administrativo para impedir a introdução de portagens.
Da “coerência” do PSD que barafustou, e na nossa Assembleia Municipal, quando questionado pela CDU afirmou mesmo ser uma grande discriminação.
Da “coerência” do PS, que no programa eleitoral garantiu não introduzir portagens caso não existissem alternativas viáveis.
Da “coerência” do PS, que conhecendo o estudo das Estradas de Portugal que afirma não existirem alternativas no nosso Município, avançou com as portagens.
Da “coerência” do PS, PSD e CDS-PP que, depois de tudo, votaram a favor da introdução das portagens. Só no Norte. E um dia, quem sabe, no Sul.
Quem paga somos nós. Num concelho onde os desempregados registados são já mais de 10 000, representando mais de 55% das inscrições no Centro de Emprego de S. João da Madeira.
Somos nós, num concelho onde as empresas pagam abaixo do salário mínimo nacional, como reconheceu o Inspector Geral do Trabalho.
Somos nós, que não criámos a crise, quem mais sofre com ela.
Pois desta “coerência” já basta. Muitos foram os que lutaram, buzinaram, se manifestaram contra estas portagens. E com a sua luta impediram durante anos que elas avançassem. Pois será só com a luta que se derrotará esta coerência que só existe num ponto: na convergência entre PS, PSD e CDS-PP quando se trata de aprovar medidas injustas e anti-sociais.
Não viremos a cara a luta. «Quem sabe faz a hora, não espera acontecer». De que estamos à espera para mostrar que não è este pais e este Governo que queremos.
Ricardo Silva
Membro da Comissão Concelhia do PCP de Santa Maria da Feira
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