08 outubro, 2011

Miguel Sousa Tavares ou a Queda de um Anjo

image Por Paulo Borges

Presidente da Direcção Nacional do PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza

Confesso que resisti muito tempo a escrever alguma coisa sobre o ainda recente comentário de Miguel Sousa Tavares na SIC sobre a abolição das touradas na Catalunha. Resisti porque os argumentos de MST se refutam a si mesmos e, sobretudo, porque tenho pudor em acrescentar alguma coisa aos vários tiros que o comentador deu em público na sua própria imagem pública. E cada vez mais, agora, ao ver as reacções e insultos de que é objecto por parte de muitos cidadãos, justamente indignados com o que disse (embora não me reveja na violência de muitos ataques pessoais), sinto pena deste homem. Sinto pena de um homem que entrou na fase de estrela decadente, tanto mais baça e em queda acelerada quanto mais pretende brilhar à custa de atacar causas justas e de defender o indefensável. Sinto pena por mais esta “Queda de um Anjo”, para recordar o romance do grande Camilo Castelo Branco.

Não me quero alongar sobre o que disse MST, que já teve no Facebook várias respostas à altura, entre as quais a de Lucília São Lourenço e do meu cunhado Richard Warrell. Noto apenas, com tristeza, a incapacidade, de MST e dos que apoiam as touradas (ou a caça e todas as formas de violência sobre animais), de se colocarem na perspectiva e no lugar do outro, que neste caso é o animal, violentamente sujeito ao sofrimento para diversão do homem. Não ser capaz de se colocar no lugar do outro, não ser capaz desta exigência indispensável de toda a ética, e não perceber que é esta a razão pela qual há tanta e cada vez mais gente que se opõe às touradas - e não uma simples questão subjectiva de gostar ou não gostar de um espectáculo - , é uma terrível limitação da sensibilidade e da inteligência. Mas MST e os que pensam como ele, como o autarca Moita Flores, sem perceberem que porventura se estão a ver ao espelho, têm ainda o desplante de afirmar que são os outros que têm “falta de cultura” e que seguem o “caminho da estupidez”… 

Isto é triste. Muito estúpido e triste. 

Muito estúpido e triste também, mas grave, muito mais grave, é a comparação da violência nas touradas, imposta pelos homens aos animais indefesos, com os perigos voluntariamente assumidos pelos participantes nos combates de boxe e nas corridas de automóveis (ou ainda o considerar a parvoíce de um programa televisivo, que se pode desligar a qualquer momento, mais violenta do que as touradas). Este raciocínio, além de só mostrar desonestidade ou falta de rigor intelectual ou as duas coisas, o que tenta é branquear a violência dos mais fortes contra os mais fracos reduzindo-a a desporto. Isto é preocupante, pois nesta ordem de ideias o que nos impede de considerar desporto as violações, os assassínios e todo o tipo de atentados contra a integridade dos seres humanos? Se obviamente repugna a todos nós considerar que as mulheres, as crianças e as vítimas de violação e homicídio participam de um espectáculo desportivo, se não aceitamos ser saudável ou estar no pleno uso da sua razão quem assim pense, o que dizer dos argumentos de MST?... 

Mas isto não acaba aqui, não acaba na existência de ideias como as de MST. A gravidade de tudo isto continua e aumenta na promoção das pessoas que defendem estas ideias a “opinion makers”, a pessoas influentes na opinião pública, transmitidas em directo no horário mais nobre de um noticiário televisivo para milhões de espectadores, sem uma voz que exerça a função do contraditório e perante a manifesta impotência ou desistência da jornalista Clara de Sousa quanto ao exercício dessa função. E depois vem MST acusar os opositores das touradas de atentarem contra a “liberdade” e a “democracia”, quando ele é o primeiro beneficiário destes atentados que privilegiam sistematicamente na comunicação social os aficionados e silenciam quase por completo as vozes opostas!... 

É isto que hoje mais me preocupa e não tanto a existência de pessoas com as ideias de Miguel Sousa Tavares, Moita Flores e outros que, sem se renovarem interiormente, arriscam-se a ter atingido e ultrapassado o limite do prazo de validade, em termos de sensibilidade humana e probidade intelectual. Espero que assim não seja, mas temo que deles já não haja nada a esperar, a não ser uma deterioração cada vez mais acelerada. O que me preocupa é que, num país e num mundo onde cada vez mais ganha volume uma nova corrente e movimento de opinião, que exige um tratamento ético dos animais (humanos e não-humanos) e se insurge contra as violências a que são sujeitos – corrente e movimento que vejo como o embrião de uma nova cultura e de uma nova civilização - , os nossos órgãos de comunicação social continuem a dar voz apenas aos mesmos de sempre, com os graves preconceitos e ideias aqui expostos. São estas as figuras públicas que nos representam? É este o Portugal que queremos? 

Termino pedindo aos leitores que não lancemos mais pedras a MST, Moita Flores e outros. Tenhamos por eles a mesma compaixão que pelos touros e por todos os seres sencientes, humanos e não-humanos. Quem pensa, fala e age em defesa da violência, ou a pratica, não pode estar bem. Peguemos antes nessas pedras e lancemo-las àquilo que em nós houver também de ignorância, preconceito e insensibilidade. E que seja por compaixão por todos – incluindo toureiros, aficionados e todos os que praticam ou apoiam a violência sobre outros seres - , e não movidos pelo ódio e pela raiva, que continuemos a manifestar a nossa justa indignação e a lutar por um mundo onde o direito de todos os seres sencientes à integridade e bem-estar físicos e psíquicos seja consagrado na lei e integralmente respeitado.

7 comentários:

AMMC disse...

Este gajo deve comer a merda que caga. Pois se assim não for que me diga o que come, e que não cause dor a outro ser!? Será canival?

Anónimo disse...

Se a estupidez, a ignorância e as churrilhadas pagassem impostos, nem o défice era tão elevado nem a "troika" cá tinha vindo...
AMMC será a SIGLA de quê!?
Associação dos Meninos Mal Criados? Desta gente não tenho pena... Só me faz mesmo confusão é o de imaginar que tipo de educação, princípios e de valores humanos pode esta "gente" um dia oferecer aos seus filhos...
Luís Miguel/Sta.Maria de Lamas

Anónimo disse...

O Miguel Sousa Tavares poderá(ia) não ter razão nas opiniões que expende, no respeitante ao defesa dos interesses dos animais,mas tem o direito de defender o que entender. E é sempre mais razoável do quem os tipos (que até elegeram um deputado na Madeira) que dizem entender que devem ser dados aos animais quase a qualificação de humanos em matéria de direitos. A propósito, que tipo de ser vivo vão mandar sentar na bancada da Assembleia Legislativa? Quem defende a igualização de direitos, deve deixar que um "dos outros" lá vá consolidar esses direitos usando a sua língua.
E Miguel S Tavares não baixou NADA em capacidade e, sobretudo em audiência. Disse uma verdade grande: Na Catalunha o voto foi contra Madrid e não contra as touradas.

José Pinto da Silva

Anónimo disse...

É triste ver que fala do que não sabe na prblemática Catalunha/er eMadrid... Deveria informar-se mais e comentar depois... Só a título de exemplo sabe à quantos anos a luta pelo fim das touradas perdurava na Catalunha!? Não sabe nem ca, calculo que saiba!
Quanto a MST, esse sehor não respeita ninguém, não sabe e nunca saberá onde acaba a liberdade dele e começa a dos outros pois, defende fervorosamente, por exemplo, que possa estar num café, restaurante ou local público a esfumaçar tabaco para cima de pessoas que não fumam como crianças porque esse é um "direito seu". Quanto a tradições e touradas só sei que a caça à baleia também o era e hoje é apenas baú de recoradações e peças de museu... Cresçamos que o tempo urge pois de todos os animais o homem foi, é e sempre será aquele que mais dificuldades tem em viver em rebanho já dizia o grande pensador Jean-Jacques Rousseau. Se a questão do animal que se vai sentar na cadeira do Parlamento regional é no sentido de obter resposta de alguém, dúvido que tenha sorte pois a churrilhada proferida é tal que nem merece resposta sequer... Mas talvez se sente por lá um animal de duas patas como os que se sentam e existem actualmente no parlamento holandês e alemão... Atrasos de países mediocres não são!??

Anónimo disse...

A guerra Catalunha/Madrid dura há séculos. No século XVI já a Catalunha se queria tornar independente e no início de XVII houve mesmo guerra quente entre as duas partes de ESpanha, guerra que Portugal aproveitou para fazer a guerra da Restauração. Quanto ao conceito de liberdade, ele MST, não acha que os "defensores dos animais" fazem mal nas suas acções. Agora, como são de facto minoria, que permitam que a maioria exprima o seu ponto de vista e, no caso da tourada, que possam assistir sem o insulto de meia dúzia de ... contestatários. A pesca da baleia foi proibida SÓ porque estava em risco a espécie. Nos touros de lide, aquela espécie fica em risco, se acabarem as touradas. Olhe que o homem vive vem melhor em sociedade do que os outros vertebrados superiores. Que seja vista a vida desses animais e constate-se como se tratam em certas circunstancias.
Como declaração de interesse, direi que não sou um fã das touradas: Vi duas na vida e só porque um toureiro, nesses dois espectáculos, era meu vizinho. Não fiquei muito fã, mas também não senti que fosse assim tão bárbaro quanto querem fazer crer.
Quanto ao representante no parlamento foi uma "boutade" para dizer que me faz rir haver um partido com tal designação e que defende que as leis deveriam considerar os animais com idênticos direitos. Não vi nunca terem pena da forma como se caçam ou pescam os atuns, tubarões e outros peixes de grande porte. Para falar só desses, porque mais bárbro é a pesca de milhões de peixes mais pequenos que morrem por falta de ar. Quem se levanta contra isso. Pode haver um ou outro que se abstenha de comer peixe ou carne, o que é respeitável, mas ... não encham a maioria dos outros.
Quanto aos fumadores, falo noutra ocasião.

José Pinto da Silva

Anónimo disse...

Sr JPS concordo o que escreveu sobre os peixes. O PAN respeita todos os animais mas a problemática animal terá de ser bem mais trabalhada ao nível canino e dos gatos. O problema Catalunha/Madrid tem bons conhecimentos mas em nada o relaciono com o fim das touradas! É falacioso quando refere que é um problema de meia dúzia, pesquise e veja quantos são! Se não aprecia touradas somos dois! Não pertence aquele grupo de pessoas ignorantes e estúpidas que acreditam que as bandarilhas não causam grande dor! Visite no youtube o esclarecimento que um deputado regional da Galiza realizou e que NiNGUÉM ousou dar um "pio" sequer! Mostra o que é uma bandarilha! Os toureiros espetam várias bandarilhas sem que o touro morram porque o animal humano inventou uma espécie de "cunha" que impede que a ponta afiada do metal ponteagudo penetre fundo no cachaço, penetrar até à mesma profundidade independente da força exercida!

Anónimo disse...

Quanto ao PAN não defender os peixes... Ai ai Sr José nem se dignou a ler o último manifesto e princípios eleitorais do PAN. Veja lá o que diz dos recursos que o homem insiste em explorar até à exaustão! Depois matam focas à paulada porque são elas que desregulam os eco-sistemas... Não queira saber do PAN para nada mas concordará que o animal homem é do pior que anda à face da terra diga lá!? E o tiro ao pombo!? Acabou para proteger os pobres pombos em extinção!? Gostava mesmo muito de ler sobre isto!? É único que mata por simples prazer o que não admira pois tem matado o seu próprio semelhante (o da mesma espécie) e aos milhões! Por mim incomodem-se ounta matem-se lá com o PAN agora tudo farei para que os meus filhos e gerações vindouras vivam num mundo mais ecológico, justo, solidário e respeitador de todos os seres vivos! E se não o fizerem que haja então leis para os punir! Bom fim de semana e desculpe algum erro da minha parte! José P. Santos/ Ovar