31 dezembro, 2009

Alerta laranja

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Tirem o cavalinho da chuva, se pensam que sou mais um a alertar para o estado calamitoso em que se  encontra o laranjal nacional. Que está em perigo. Está, mas o risco de derrocada ainda não é eminente. Mas o meu alerta laranja, é outro.

É outro e está na moda e este sim, também não se recomenda. Foi moda no Verão, com o alerta laranja para os fogos florestais. Tem outras nuances que, geralmente, vão até ao amarelo, aliás balança entre as duas. Quer a Norte ou a Sul, bem como para os lados rara era a semana que não houvesse região em alerta e estes, até variavam de cor, que esta é lhe dada conforme o seu grau de perigosidade. Começam no laranja, vão ao amarelo e depois, não tenho a certeza se o perigo é vermelho e se por último vem o rosa, que não sei se não é mesmo o primeiro, ou se é, cor de alerta.
Passou o Verão, mas a moda não, é a mesma de Inverno. O amarelo continua na berra. Agora é o vento e a chuva e destes criadores da moda a ditarem as tendências e, quando acontecem as duas ao mesmo tempo. É o must das intempéries e destes criadores da moda que dão pelo nome de protecção civil.
Os meios de comunicação social são literalmente inundados por estes estilistas de possíveis catástrofes. São os nossos anjos da guarda. Gosto de vê-los nas televisões, todos estilosos nos seus vistosos casacões vermelho Ferrari com listas florescentes mais o inseparável boné de pala no seu frenesim de quem está preparado para salvar o Mundo, rodeados de gente ainda mais frenética, chegam a ter um telefone por orelha, frente a computadores que lhes trazem a meteorologia à la carte.
É nos chamados gabinete de crise ou centro operacionais, o seu habitat natural, uma ou outra ida ao terreno, fica-lhes a matar. As paredes dos mesmos estão repletas de gráficos, que consultam de ponteiro em riste. Estão em briefings constantes e ouve-se em fundo, a informação que de Espanha vem vento frio, como se dali pudéssemos esperar outra coisa e o anticiclone dos Açores com as suas costas largas, também é mencionado. Isto ouvi eu.
Acho que estão a vulgarizar os alertas. Lançam-nos por tudo e por nada. Felizmente, são quase sempre infundados. Se não acontecerem, ainda bem. Acontecendo, estou a vê-los. “Nós bem avisamos”. Serve para lavar as mãos. Como Pilatos.
Foi o que aconteceu agora na Régua, ontem. Durante o dia o Douro galgou as margens. Mas logo a Protecção Civil, com toda a parafernália de meios e instrumentos que tem ao seu dispor, vaticinou e com tanta certeza, que até hora marcada tinha. O rio vai alagar as margens a partir das 4horas da madrugada, recomendando a evacuação de tudo o que fosse rés-do-chão. Foi uma balbúrdia, ninguém fechou olho naquela noite, tudo subiu ao primeiro andar, gente e objectos. A chuva continuava a cair e a Barragem de Bagauste ía debitar um caudal de saída de 6 000 m3/s. Com estes argumentos, não havia margens que conseguiriam conter o rio.
O rio, só não subiu como o seu nível até baixou. E não foi milagre. A barragem só debitou 2000m3/s, à saída. Aquelas gentes ribeirinhas, respiraram de alívio, mas também de indignação. E o caso não era para menos.

3 comentários:

Anónimo disse...

É uma fantochada e estou a sofrê-la na pele. Ontem a Protecção Civil proibiu os barcos no Douro, hoje e a chuva não tem parado já veio dizer que podem navegar para o Reveillon.

Anónimo disse...

Sem dúvida, na acção preventiva exageram e isso é tipico dos prtugueses, o sacudir a água do capote.Amanhem-se.

Anónimo disse...

Fernando Madrinha neste último Expresso escrevía- "o melhor é rezar para que o nosso sistema de ptotecção civil nunca seja posto à prova". Isto já é a serio e não uma brincadeira como a do Xeirinhas.