A direcção do Jornal de Notícias terá recusado publicar o artigo de Mário Crespo, no qual o jornalista denuncia uma conversa entre José Sócrates e dois ministros.Segundo o semanário Sol, o jornalista da SIC deixará de colaborar com o JN, devido a esta atitude da direcção
.Mário Crespo garante ter sido «ameaçado» por Sócrates
O artigo deveria ser publicado esta segunda-feira. Mário Crespo garante que o enviou às 6h00 de domingo, mas que, à meia-noite, o director do JN, José Leite Pereira, lhe telefonou a informar que não seria publicado.
«Não houve uma explicação plausível» para a recusa, disse Mário Crespo ao Sol.
JN explica fim da colaboração
Na edição online, o JN vem explicar o fim da cessação da colaboração. Numa nota da direcção, o jornal explica que «no entender do director do JN o texto de Mário Crespo não era um simples texto de Opinião mas fazia referências a factos». Ora, ainda no entender do directo do JN, os factos relatados no texto de Mário Crespo «suscitavam duas ordens de problemas: por um lado necessitavam de confirmação, de que fosse exercido o direito ao contraditório relativamente às pessoas ali citadas; por outro lado, a informação chegara a Mário Crespo por um processo que o JN habitualmente rejeita como prática noticiosa; isto é: o texto era construído a partir de informações que lhe tinham sido fornecidas por alguém que escutara uma conversa num restaurante».
A direcção do Jornal de Notícias explica ainda que Mário Crespo decidiu retirar o texto para publicação e cessar a colaboração com o jornal. Decisões que a direcção diz respeitar.
O artigo em questão:
O Fim da Linha
Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicacado hoje (1/2/2010) na imprensa.
7 comentários:
agora só falta "sacar" os directores dos jornais da coba. O Azeiteiro no correio da feira e o Alfredo Henriques no Terras da feira.
ouvir conversas de outros é feio e trnscrevê-las, ainda pior. Mas o nosso primeiro já se valeu de coisa igual para mandar para a rua o profe Charrua, lembram-se? Ninguém gosta de provar do próprio veneno. No meio disto tudo só não compreendo a posição do JN. Censura não tem outro nome a razão está á vista o Sr. Oliveira dono anda com problemas de money-quem não anda- e precisa das bençãos governamentais e até para isso pôs o outro seu jornal o DN ao serviço
Isto é uma vergonha. Voltamos ao tempo do antigo regime. Mas atenção isto também se passa cá no concelho, se for verdade o que ouvi dizer, também cá existem pressões.
Meus amigo, isto está a ser insuportável! De facto ouvir conversas dos outros e encher os ouvidos aos "lesados falados" não está bem. Mas de facto é prepotência falar alto e todos ouvirem na ausência do "visado" também não está bem. Mas ainda bem que se sabem destas coisas. Para que conste.
Também acabei de ouvir a notícia e infelizmente já não me admiro mas fico chocada com a falta do dever do exercício de cidadania. Já são poucos os que têm a coragem de dizer o que sentem, os que enfrentam o poder instituído e alertam para os perigos do futuro muito próximo.E não pensem que sonhar e acreditar é tarefa fácil porque eu sou das pessoas que acreditam que apesar do caos ainda há saída para a inoperância dos que comandam os nossos destinos. Ainda há os que resistem, que estão atentos e não têm deixado os abutres agarrar o pouco que nos resta. E já nos resta muito pouco!!! E são esses que estão a impedir que a repressão exercida em nós não seja mais forte e radical. O objectivo é mesmo esse. Que o poder de quem é dono do dinheiro tenha também o poder de nos roubar os sonhos.Cada vez acredito mais que isto não é ficção.
A isto, o Morcão, perdão o Larcão, chama-lhe calhandrice. Ao que o Sócrates faz e tenta fazer a todos que estão contra ele, chama-se canalhice.
Eu só fico surpreendido,com o facto de não haver ninguém com um gravador (afinal 90% dos téléles possuem essa faculdade)para gravar a dita e coloca-la na Net!..
Afinal escutava-se ao redor...ao estilo da do apito,já em formato digital,(papinha na boca) que bom que seria Pôr o nosso Primeiro em Chamas (a sério)
Esta me**a de não haver provas factuais,mas todos escutarem,levou o Crespo,a ditar a regras da defesa,como bom Jornalista que é, e não um Calhandreiro... :-)
Parece que os mini-Deuses estão acabar,NÃO HÁ JUSTIÇA neste País. O Crespo bem que servia para super-homem.
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