José Sócrates é muito intolerante - mas tem esse direito, como todos temos. Porque há-de medir as palavras e as acções, como se fosse melhor do que nós? Acho muito bem que se indigne e ponha processos como o comum dos mortais. Deverá alguém - à parte os indiferentes da Prisa - prescindir da liberdade de dizer o que quer?
Parece-me que, num pensamento totalitário, se confunde o político com o legal. Sócrates, antes e depois de ser primeiro-ministro, é um cidadão como qualquer um de nós. E faz bem - é libertador - agir como tal, mesmo quando se comporta como a prima donna que, de facto, por feitio dele e eleição nossa, é. Sócrates, ao reagir como cidadão e abster-se das condescendências e pseudo-aristocracias da democracia, presta um serviço e rompe com uma tradição. Não é um Presidente da República, acima de tudo: é um eleito que elegemos para mandar em nós.
Pode ser um chefe temporário mas faz bem em ser um cidadão e indivíduo para sempre. Crespo é mais aromático e mais permanente. Fazer-se de vítima antes de ser - só porque há muito que há muitos que não gostam dele - é, a bem dizer, desumano.»
Por Miguel Esteves Cardoso in Público
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