No passado dia 20 de Fevereiro, organizada pelo Clube Futebol União de Lamas, tivemos a justa e merecida Homenagem ao nosso Benemérito Comendador. Também estive presente na companhia de um familiar, porque acredito que a história nunca apagará a memória dos Homens Bons. Os discursos feitos na romagem ao jazigo do Srº Comendador foram curtos, claros e elucidativos da obra enorme deixada pelo meu conterrâneo Henrique Alves Amorim.
Quando olhamos para os bons exemplos, ficamos com algum conforto em recordar o percurso deste homem de Santa Maria de Lamas, que promoveu a grande Campanha de Alfabetização na aldeia onde nasceu e amou até ao fim, confiando estes sentimentos a todos os que o rodeavam, dizendo a certa altura, “ Quando miúdo (C.H.A.), para frequentar a escola, tive de me deslocar a Mozelos. Claro que isto pesou na minha consciência e motivou portanto a minha actuação em Lamas.” (ver o jornal UNIÃO de Maio de 1975, do qual seu director, o Drº Rubens é o actual Presidente da Casa do Povo). E, foi por volta de 1935 que fez diligências para a instalação de escolas e a primeira foi a do Merouço. Então, começou a sua intervenção directa, às vezes impertinente, junto da Câmara e Ministério da Educação em prol do ensino. Logo a seguir aparece a escola das Agras com terrenos oferecidos também pelo Comendador. Em 1946, ofereceu o terreno para a construção da cantina escolar, e dizia: “Verificava-se, fruto da crise gerada da 2ª Guerra Mundial, que os filhos dos operários, tiritando de frio, tristes, de cor macilenta, espelhando a miséria da época, não rendiam! Não eram pardais que saltitavam. Daí a ideia que fez nascer cantina”. Pois claro, a fome e a escola só resulta se for “temperado” o estômago.
Depois desta Campanha de Instrução, e por volta de 1957, e porque o Ensino Primário não era suficiente, na continuação das obras do Museu, construiu um pavilhão anexo ao mesmo edifício, com destino a um colégio (que chegou a ser “conhecido” por COLÉGIO CRISTO-REI). Nele, instalou-se 17 salas de aula, e enveredou múltiplos esforços em Lisboa, no Ministério da Educação e Instituto Audio-Visual, sendo autorizado a criação de Tele-escolas, sendo o Posto Central em Lamas com 23 salas nas 32 freguesias do Concelho, chegando a entrar nos de Gaia e Arouca. E, o Colégio conforme é designado hoje, NASCE desta continuação. Foi o Comendador a Lisboa, contacta o Drº João de Almeida e o Ministério, e assim foi constituído a transição da Tele-escola e escolheu o Drº Vieira para seu director.
Além de toda a dedicação à Cultura e Ensino, é de realçar a nossa Igreja, os arruamentos, a electrificação, o abastecimento de água, os bairros sociais, os terrenos, o cemitério, o parque, o cinema, as piscinas e o Complexo Desportivo do C.F.União de Lamas, o colégio, em suma, toda a sua fortuna em prol da sua Aldeia. Também o seu sucesso enquanto Empresário não é de menosprezar. Na América, os homens de sucesso costumam deixar em testamento uma parte da sua fortuna à Escola onde se formaram, querem que um pouco da sua riqueza contribua para o progresso, alimentando a investigação e o ensino. O Comendador não deixou de parte o seu legado… Doou tudo a uma CASA que se calhar ainda não é do POVO… Muito teria a dizer a respeito deste assunto, mas ficará para outra altura, se me derem oportunidade. Gostaria de partilhar muitos documentos retirados de jornais da época, onde leio, com muito gosto e saudades as entrevistas do Srº Comendador Amorim.
Hoje realço o editorial do jornal UNIÃO, nº 39 de Fevereiro de 1978: “Passaram já doze anos sobre o desaparecimento do Comendador Henrique Alves Amorim. Tempo que não pode de forma alguma apagar a Personalidade e a Obra daquele que foi o mais Ilustre e Generoso Filho de Santa Maria de Lamas. Contudo, muitos são aqueles que de maneira pouco digna já o esqueceram. O UNIÃO não pode, nem quer alinhar com os que o esqueceram, ou que tentam fazê-lo, por isso aqui estamos com a nossa infinita gratidão ao nosso Grande Benemérito.”. Isto foi escrito à 32 anos, embora muito actual, a minha mensagem será a mesma e para SEMPRE… Acrescentando o mesmo agradecimento ao nosso Padre Zé e Drº Veiga de Macedo, os 3 mosqueteiros, conforme o adjectivo aplicado pelo Srº Comendador.
No mesmo Jornal de 1978, temos palavras escritas dos alunos do colégio e assinado por Alfredo Amorim: “Entendemos ser nosso dever moral, termos nesta hora uma palavra de agradecimento para com o Homem que fez com que hoje tenhamos “bagagem” suficiente para sabermos utilizar as palavras que fomos aprendendo no colégio que ele edificou…” Também é de realçar as curtíssimas palavras do Drº Vieira, director do colégio nomeado pelo Srº Comendador: “ O Srº Comendador Henrique Amorim, é um exemplo de Homem, jamais igualado pelos Homens!”. O nosso homem do teatro, o saudoso Carlos Peixoto dizia: “ O tempo realça as coisas que têm préstimo, e então, num futuro que se me afigura próximo, será isto com tristeza, para mim e para quem gosta do progresso desta aldeia que tanto amou! Por agora, a mais visitada de todas as aldeias de Portugal. Senhor Amorim, por aquilo que fez de bem na terra, bem merece o lugar que tem no Céu… Adeus!”
Eram 11h45m, do dia 20 de Fevereiro de 1977, um fatídico dia de Domingo, e, a partir desta data, Santa Maria de Lamas ficou mais pobre. Perdeu o seu filho mais ilustre, generoso e dedicado. Curiosamente, neste dia dava-se um acontecimento com o qual ele tanto sonhara… O estádio com o seu nome registava a sua maior enchente de sempre, jogava o seu Clube Futebol União de Lamas com o Sporting Club de Portugal, num jogo para a Taça de Portugal.
Eu não resisto em dizer que muitas noites também sonho com este Homem, generoso e protector… São sonhos lindos, com mensagens que não consigo por enquanto descrever. Bem-haja Srº Amorim…
Já agora, e quase a terminar, adorei o discurso, no passado sábado, na Eucaristia, do nosso Pároco Padre António e a título de aviso: “Não apaguem a memória do Comendador! Não retirem os seus bustos e reponham as letras que faltam nas legendas, por favor…”
Lamento em opinião sofrida nesta 33ª Homenagem, não estarem presentes um grupo de alunos, professores do colégio que fundou, ou elementos da Casa do Povo. Ao contrário de outras entidades, Exm. Autarcas, atletas, colaboradores do Srº Comendador, o povo de Lamas, amigos e familiares do Srº Amorim.
António Rocha de Santa Maria de Lamas
2 comentários:
Parabéns ao Exmo. Senhor Henrique A.Amorim,Realmente uma figura que conheci em miúdo, que o meu pai já falecido, muito acompanhou na feitura do seu(antigo)MUSEU, de Santa Maria de Lamas.
A OBRA SOCIAL PRODUZIDA,AINDA HOJE É BEM VISIVEĹ !
Ps:resta acrescentar,outra figura ímpar,que o acompanhava com frequência: O Padre ZÈ !
Viva a Apologia do fascismo!
Só falta mencionar o Veiga de Macedo para completar a troika fascista que deu vida a S.M.Lamas.
Ainda restam por aí alguns saudosistas com cheiro a naftalina.
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