07 junho, 2010

O pico do petróleo…..

Em artigo enviado para o Kouzas Louzas, José Vaz Silva fala-nos sobre a problemática da oferta energética. 






O pico do petróleo, uma realidade cada vez mais presente


 

O gráfico de cima foi feito pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos e pelos militares do Joint Forces Command dos Estados Unidos e indica que o abastecimento de combustíveis líquidos, ou seja, petróleo, estará em queda livre dentro de menos de 2 anos e, dentro de 20 anos, cairá para metade do que é hoje. Se os dados do gráfico estiverem correctos, dentro de 20 anos a oferta total de petróleo (convencional e não convencional) será de 43 milhões de barris diários, contra os 85 milhões de hoje e com uma procura previsível de 105 milhões de barris diários. Os mais de 60 milhões de barris diários que serão necessários em 2030 para satisfazer a oferta, ainda segundo os dados do gráfico da EIA, virão de "projectos não identificados", ou seja, de lado nenhum.

Para todos aqueles que pelo menos lêem os títulos das minhas reflexões, sabem que tenho dedicado muito do meu tempo a estudar a problemática da oferta energética, com particular evidência na oferta de petróleo e na sua importância para a sociedade contemporânea. Tenho também alertado sistematicamente para a eminente escassez do sangue na nossa sociedade, que é o petróleo, e para o que isso representa para o nosso modo de vida completamente dependente desse recurso não renovável, apesar da incredulidade geral por acharem as minhas análises pessimistas e inverosímeis, os dados deste gráfico são dos mais preocupantes que tenho visto e vêm de uma entidade que até há pouco tempo negava publicamente a realidade da escassez de oferta de petróleo. É bom referir que os "projectos não identificados" que surge no gráfico com aquele triangulo branco, entre a procura e a oferta de petróleo, não passa de um eufemismo e que não há nenhuma fonte energética que em tão pouco tempo consiga preencher o fosso entre a oferta e a procura.

Tenho a perfeita consciência de que a generalidade das pessoas é completamente incrédula relativamente ao impacto que a eventual escassez de petróleo terá para este modelo socioeconómico, por acharem que esta fonte energética primária, que o petróleo nos fornece e que é responsável pela sociedade tecnológica de hoje, será facilmente substituível por uma qualquer fonte energética. Só não dizem qual. As pessoas acreditam simplesmente que alguém no momento oportuno inventará alguma coisa que substitua o feio, sujo e mau petróleo. Fé portanto.

Os poderes instalados alimentam a incredulidade geral por irresponsabilidade, por cobardia, ou por interesses contrários ao interesse geral, o que tornará a tomada de consciência das populações para esta nova realidade, que chegará mais ano menos ano, num choque de proporções incalculáveis. Daí a necessidade urgente de toda a sociedade tomar consciência de que a energia acessível e barata que alimenta esta sociedade hiper-consumista e globalizada, está a chegar ao fim. 

Portanto, pelo futuro dos nossos filhos, seria do mais adequado possível que as pessoas deixassem de acreditar em falsas promessas de energias baratas e acessíveis a todos, porque tal coisa na realidade prática de hoje não existe e, como tal, preparar-nos-ia para uma realidade diferente da que estamos habituados hoje por décadas de petróleo barato. Acreditar em histórias de encantar poderá ser óptimo para a nossa imaginação e para o nosso lado infantil, mas certamente será péssimo se nos deixarmos alienar, principalmente no momento de encher os depósitos dos nossos transportes.

Todos nós deveremos tomar consciência de que a sociedade que aí vem, no rescaldo do pico do petróleo, terá de ser mais local, ambientalmente mais racional, sustentável e menos individualista. O que não será necessariamente mau, antes pelo contrário. Mas os obstáculos para a concretização dessa nova sociedade são muitos e poderosos.

A teoria económica dominante, que serve os poderes económicos de hoje, não tem em conta a escassez energética que se aproxima com o pico do petróleo nas previsões económicas de médio e longo prazo, aliás, as suas previsões assentam em paradigmas de crescimento eterno que não contemplam os limites dos recursos renováveis e não renováveis, é como se não houvesse limites. O pico do petróleo, para o poder económico dominante e para os governos seus cúmplices, é uma fantasia que não merece atenção. Esquecem que todos os choques petrolíferos do passado tiveram como consequência, recessão económica, apesar desses choques petrolíferos do passado serem de origem política que rapidamente foram solucionados. O último e derradeiro choque petrolífero que se aproxima é de origem geológica e não há nada que possa ser feita para alterar essa realidade. Apesar dessa dura realidade, o modelo económico mantêm-se inalterável e o silêncio dos poderes em redor do pico do petróleo é comprometedor. 

Como já referi em textos anteriores e para escândalo de muito boa gente, eu reafirmo que, em minha opinião e com base no que tenho estudado sobre os recursos energéticos, o maior e mais complicado problema que a humanidade terá de enfrentar nas próximas décadas, não é o aquecimento global, como nos é referido sistematicamente, mas sim a escassez de petróleo que se verificará a curto prazo e que provocará uma gravíssima crise energética que afectará todos os sectores da sociedade. Ninguém deixará de abastecer o depósito do seu transporte até ao último momento em que isso seja possível por razões ambientais, tal como os habitantes da ilha de Páscoa não hesitaram em abater a última árvore da sua ilha para satisfação das suas necessidades, mesmo sabendo que isso significava o fim da sua sociedade. 

Espero sinceramente que não cheguemos ao extremo de colapsar a nossa sociedade por consumo excessivo dos recursos que a alimentam, a exemplo do que fizeram os habitantes da ilha de Páscoa, mas que há esse risco, lá isso há. 

José Vaz e Silva


Ver os meus artigos anteriores sobre esta temática:

O PICO DO PETRÓLEO, PORQUE NOS DEVERÁ PREOCUPAR?

ENERGIAS ALTERNATIVAS AO PETRÓLEO

A RAIZ DO PROBLEMA

CRASH COURSE – ECONOMIA, ENERGIA E AMBIENTE

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