04 abril, 2012

Proporcionalidade ou matemática de intenções ?

imagePor bettencourt
 
A direção do PS, apresentou aos membros da Comissão Nacional na tarde do pretérito sábado a versão final das propostas de alterações aos estatutos que acabaria por ser votada maioritariamente. 

Na versão final do documento, ficou lavrado que a indicação de candidatos a deputados, sempre que levada para eleições primárias por requerimento de 10% dos militantes, 1/3 da Comissão Política Distrital e 1/3 das Comissões Concelhias, observará e interpretará os resultados respeitando a proporcionalidade de votos que cada uma das listas candidatas obteve.

Note-se que apesar de esta questão da proporcionalidade não estar inicialmente prevista (até sábado de manhã) no texto inicialmente distribuído aos membros da CN, acabaria por, durante esse mesmo dia passar a integrar em definitivo a redação final do documento. 

E deixem-me que o diga, a mim parece-me muito bem que o tenham incluído. 

Desde logo porque a questão da proporcionalidade que aqui se discute e que é tema do presente post, representa para a família Socialista e em termos práticos, o garante de que no futuro, uma qualquer lista candidata aos órgãos diretivos do partido possa assegurar aos candidatos que cada uma das listas entendeu submeter a sufrágio e em linha com os resultados que vierem a ser apurados, a representatividade proporcionalmente calculada para virem a ocupar esses mesmos órgãos directivos. 

A responsabilidade governativa passará a ser (ou não ?) por efeito da agregação de sensibilidades pós eleitorais …compartilhada. 

Assim e no essencial, quando num exercício de “exegese política” simples, reportamos esta alteração do código estatutário ao atual momento político que se vive no PS/FEIRA convenhamos que a notícia assume particular interesse sobretudo do ponto de vista estratégico na medida em que ao abolir dos seus estatutos um dos principais fatores que tem concorrido para a inibição do tão propalado pluralismo democrático (vide: V.F. versus H.F.) dá também um contributo decisivo para abolir o estigma que determina que a lista vencedora tenha, logo após umas quaisquer eleições a habitual ortodoxia de pensar em relação ao adversário político de circunstância que “se não fostes por mim, então é porque fostes e és, contra mim”. 

Ora, no contexto dos novos estatutos, esta posição deixa a partir de agora de fazer qualquer sentido. 

Na verdade instituiu-se o respeito pela ousadia política entre pares. O direito à diferença sem que daí advenha qualquer espécie de retaliação que seja castradora da dinâmica democrática que o partido (sobretudo as bases) reclamam desde à longos anos a esta parte. 

Aquela ideia prevalecente que tem ensombrado o PS/FEIRA considerando-o uma espécie de agremiação política que faz convergir e circunscrever as várias sensibilidades “locais” do partido submetendo-as a um determinismo bacoco assente no alegado “savoir faire” de matiz feudal complementado com argumentos de conteúdo irrefutável e a partir dos quais de resto, se veem legitimando o tal núcleo dito duro, mais não faz do que retirar espaço de incandescência a outras opções porventura mais explosivas mas que invariavelmente descambam em pequenos, dispersos e ténues “fogus fátuos” que vão sendo convertidos por sapiente asfixia em leves sopros de portentosas intenções que ficam por acontecer. 

Potenciar e privilegiar o entendimento “negociado” (como aquele que já se encontra na forja para as próximas autárquicas), deveria dar lugar à promoção de debates construtivos alicerçados em candidaturas sérias com vista a extrair daí (do consequente debate) os principais fundamentos constituintes de um interesse comum de maior alcance, onde na verdade a negociação de qualquer entendimento que pudesse vir a surgir, à priori ou mesmo à posteriori, não tivesse o tal cunho marcadamente circunstancial como é aquele que se tem vindo a manifestar com maior intensidade nesta fase preparatória das concelhias. 

Mas sobre esta minha perspetiva como certamente se recordam, já tive oportunidade de me pronunciar numa outra ocasião e por isso, se me permitirem irei encerrar este assunto recorrendo para o efeito ao enunciado do seguinte adágio popular que passo agora a citar, não sem antes salvaguardar naturalmente qualquer falta de respeito que os “visados” possam julgar existir. 

Ensina-nos o provérbio que: 

“nunca deves tentar ensinar um porco a cantar. Perdes o teu tempo e incomodas o porco”. 

Posto isto, e para que nos situemos um pouco melhor relativamente à… chamemos-lhe por condescendente generosidade “moção” que defendo e proponho para o PS Feira, e que me leva a defender acerrimamente a existência de uma multiplicidade de listas concorrentes à liderança da Concelhia, é dizia eu, uma moção que se inspira na necessária visão eclética que deve pautar o nosso esforço reflexivo sobre esta matérias. 

Estaremos de acordo se por exemplo eu afirmar que o meu entendimento sobre as principais questões que afetam o concelho e sobre as quais tenho (porque posso) uma opinião e/ou proposta de resolução, não é necessariamente igual ao entendimento que outro qualquer militante e/ou simpatizante possa ter sobre essa mesma matéria. 

É por isso certo que do confronto intelectualmente honesto destas opiniões, quando submetidas à lâmpada ultra violeta do juízo político ou se preferirem ao crivo da lógica Hegeliana que nos ensina que a Síntese é produto da tensão gerada entre a Tese e a Antítese sendo esta ( a Síntese ) outra Tese (diferente da anterior porque mais “enriquecida”) e que dará lugar a uma nova Antítese, de cuja tensão irá nascer uma nova Síntese num movimento “helicoidal” que cronologicamente se vai sucedendo ao longo deste processo e como vimos sempre mais enriquecida que a Tese do instante que a antecede que é no fundo o que se pretende. 

Filosofias à parte, 

Será pois destas versões melhoradas e potencialmente mais mobilizadoras porque obtidas com base em consensos não circunstanciais, que poderemos ajudar a impulsionar o partido para um novo e original ciclo de vitórias que de outra forma e a manter-se esta passividade intimidatória obtida a troco de uma Paz patética como a que agora se pretende inscrever de forma afunilada e tacanha no cardex das decisões políticas recentes, apenas poderá vir a beneficiar no futuro e sem qualquer outra margem de manobra, com o demérito do adversário. 

Ora, o partido merece mais do que este eventual benefício marginal. 

O conceito de proporcionalidade com que iniciamos este tema é por isso mesmo a ferramenta que faltava para cumprir este desígnio. 

Metam mãos à obra que o tempo (linearmente helicoidal) urge  …ou como diria a Barbie se não fosse boneca e pudesse falar. “Yesse… you Ken”.

Até Já

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