05 março, 2010

Várzea, de paraíso turístico a parque de sucatas e lixeira

por José Vaz e Silva
O pequeno vale da Várzea, situado na fronteira de Pigeiros e Caldas de S. Jorge, a pouco mais de 2 km da zona termal desta última localidade, é banhado pelo rio Uíma e é um património único no concelho da Feira, no que respeita a beleza natural, que nos foi emprestado pelos nossos antepassados.

Recentemente, os poderes locais, decidiram, contra todo o mais elementar bom senso, aprovar um projecto para a construção, numa das encostas do referido vale da Várzea, um gigantesco parque de sucatas, para onde confluirão todos os resíduos automóveis de diversos concelhos; mais recentemente e ainda em processo de estudo, está a instalação, para esta mesma encosta, de uma gigantesca lixeira, a que dão o nome de aterro sanitário, que ocupará uma área de 20 hectares e que servirá para enterrar o lixo proveniente dos concelhos de Gaia e Feira, ou seja, o lixo de mais de 400 000 pessoas.

O vale da Várzea é uma herança colectiva que nos foi emprestada pelos nossos antepassados, como já referi, como qualquer herança, a Várzea tem muitos verdugos que trabalham para que esse património colectivo desapareça, apesar das suas potencialidades naturais reconhecidas por quase todos. Ou pelo menos, assim era até há poucos anos atrás, no tempo em que havia um projecto turístico que pretendia transformar esse magnífico vale da Várzea, pela sua beleza natural, numa atracção internacional, curioso, porque os verdugos que agora o pretendem aniquilar, nesse tempo, apregoavam aos ventos as suas potencialidades e a sua beleza natural, pena é que tenham tão pouca memória e que agora só encontrem utilidade para a Várzea para aí depositar lixos.

Como a falta de memória é coisa que não mata, essa gente dos poderes que comandam os destinos do concelho há décadas, vivem de boa saúde, apesar de deixaram acumular e agravar os problemas, não encontrado soluções de fundo para a sua resolução definitiva, nada lhes acontece, encomendam um estudo à medida aqui, e outro ali, e assim, justificam as suas desastrosas acções, pena é que hajam técnicos e instituições que alinhem nestes jogos pouco claros e pouco sérios.

A simples inclusão do vale da Várzea como um dos locais passíveis de escolha para a instalação de um aterro sanitário, é por si só um escândalo de difícil classificação, a sua escolha para a efectiva instalação de uma lixeira dos tempos modernos, a que pomposamente chamam aterro sanitário, constitui uma afronta e um atentado ao património natural do concelho, bem como à memória colectiva dos habitantes de Pigeiros e Caldas de S. Jorge.

Os argumentos, alegadamente, de carácter científico que os verdugos da destruição apresentam para justificar a sua escolha, bem como, os seus discursos vazios disfarçados de senhores bem-pensantes, de nada valem, muito menos os seus argumentos em nome do progresso, pois, o conceito de progresso, que hoje vigora e que os poderes alimentam, necessitam de revisão urgente, sob pena de nada nos restar.
Assim, se nós, povos de Pigeiros e Caldas de S. Jorge, consentirmos que destruam o vale da Várzea com uma lixeira, mesmo que esta tenha outro nome, não valeremos mais do que o que lá irão depositar.
José Vaz e Silva

1 comentário:

Anónimo disse...

Não será altura, momento de dizer: NEM NAS CALDAS/PIGEIROS nem em CANEDO? Porque temos de andar a aturar estes supostos inteligentes que defendem lixeiras nas terras dos outros? Porque é que uns pagam tudo e outros não pagam nada? O Lixo não é de todos? Teremos cara de totós? Há locais específicos, construídos de raiz para estes fins, como por exemplo a LIPOR. Não defendo que a minha terra é melhor que a tua para uma lixeira. PAGUEMOS TODOS! NÃO NOS CONFORMEMOS!