por José Vaz e Silva
O troço da auto-estrada A32 que ligará Oliveira de Azeméis ao Porto está em construção em ritmo acelerado. A maquinaria pesada esventra campos e montanhas − para gáudio dos autarcas míopes das terras por onde passa essa via, que acreditam nesta forma de desenvolvimento para as suas terras – e a curto prazo mais transportes individuais cruzarão os concelhos de Oliveira de Azeméis, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, Vila Nova de Gaia e Porto, a mais de 120Km hora. Pelo menos, é no que acreditam governo e autarcas, para quem a mudança de paradigma energético e, portanto, de mobilidade é algo de inverosímil e fruto da imaginação de alguns profetas da desgraça.
Este troço de auto-estrada agora em construção que, na minha opinião é completamente inútil, faz parte do projecto, ainda mais inútil e caro, de construir um terceira ligação por auto-estrada entre Lisboa e Porto, sendo sustentado por essas ruinosas parcerias público-privadas onde o privado investe com lucros futuros garantidos, nem que por essas auto-estradas não circulem quaisquer veículos. Ou seja, o Estado cobre a diferença quando as receitas de exploração, como portagens e outras, não forem suficientes para cobrir os investimentos com lucros dos seus parceiros privados. Portanto, num futuro cenário de escassez e alto preço da energia, principalmente dos combustíveis (1), milhares de veículos individuais ficarão imobilizados por impossibilidade do seu proprietário o abastecer de combustível, havendo previsivelmente uma forte diminuição da circulação automóvel, principalmente nas auto-estradas. Isto fará com que o Estado tenha de aumentar a indemnizações compensatórias aos seus parceiro concessionários das referidas vias. Essas compensações pagas pelo Estado, sairão dos nossos bolsos, quer essas vias sejam úteis ou inúteis à sociedade. Mas nessa altura, os vendedores de ilusões que hoje estão no poder, juntamente com a sua trupe clientelar, estarão longe e livres de responsabilidades, provavelmente sentados nas cadeiras da administração de qualquer grande empresa que negoceia com o Estado e, obviamente, principescamente pagos.
O país está próximo da insolvência e afogado em dívidas, não se cansam de nos alertar as vozes do sistema e, provavelmente, têm razão. Mas, a responsabilidade para essa situação não é do Estado Social, como essas vozes nos querem fazer crer, mas sim do escandaloso desperdício na máquina burocrática estatal e da promiscuidade existente entre os interesses privados e o interesse público, que sugam os seus recursos, como são disso exemplo as parcerias público-privadas para a construção e exploração das auto-estradas por todo o país, onde os privados investem sem qualquer risco que é assumido na totalidade pelo Estado. Assim não há finanças que resistam nem impostos suficientes.
Face ao exposto, é minha convicção de que a nova A32 será inútil para a sociedade e um fardo pesadíssimo para o futuro. Por isso, teria sido mais útil à comunidade se os poderes tivessem decidido canalizar esse desastroso investimento para a expansão do Metro do Porto aos municípios a sul dessa cidade, Espinho, Santa Maria da Feira, S. João da Madeira e Oliveira de Azeméis.
O Metro do Porto que circula e serve alguns concelhos da área Metropolitana do Porto, apesar dos avanços e recuos e dos erros de gestão, não deixa de ser o investimento mais importante no norte do país no que concerne à mobilidade. Os concelhos a sul, na referida área metropolitana, que não são servidos pelo Metro, têm graves problemas de mobilidade que a nova A32 não resolverá. Caso os poderes agissem em função do estrito interesse público, a A32 nunca teria passado do papel e o investimento recairia na extensão do Metro aos concelhos já referidos.
Como é evidente, é tarde para travar o avanço da construção da nova auto-estrada, portanto, é um desastre consumado. Mas isso em nada altera a necessidade dos munícipes de Espinho, Santa Maria da Feira, S. João da Madeira e Oliveira de Azeméis serem servidos por esse moderno e ambientalmente sustentável transporte que é o Metro.
Sem querer entrem em questões de ordem técnica que estão fora do âmbito desta crónica, não posso deixar de referir que a linha do Vouga, que se encontra praticamente ao abandono, poderia ser aproveitada para no seu eixo, que atravessa as principais cidades dos concelhos referidos, ser construída a linha do Metro que serviria os concelhos a sul da Área Metropolitana do Porto e assim suprir os gravíssimos problemas de mobilidade existentes no presente e que se agravarão no futuro, caso nada seja feito. E mais, a extensão do Metro do Porto aos municípios de Espinho, Santa Maria da Feira, S. João da Madeira e Oliveira de Azeméis, é uma necessidade civilizacional e ambiental que deveria ser uma prioridade dos os autarcas desses municípios e uma exigência dos cidadãos.
5 comentários:
Metro ou comboio suburbano, não interessa. Importa sim a garantia de uma acessibilidade ferroviária digna no acesso do EDV ao Porto. Penso que não são precisos mais estudos para garantir a viabilidade. Basta apenas moldar as politicas e acabar de vez com os preconceitos contra a população da "margem sul" da AMP.
Estou a ouvir na TV os desgovernantes deste país moribundo a apresentar as novas decisões sobre os furos dos nossos cintos.
É obscena esta gestão, num país cheio de recursos naturais e de gente trabalhadora e honesta, apesar de tudo o que aparece nas mesas dos cafés.
Daí, não só eu, considerar imprescindível a construção do Metro até à Feira, pela A1 em superfície e, como diz, fazer o aproveitamento da Linha do Vouga para dar seguimento até Oliveira de Azeméis.
Mas acredito que este projecto não seria rentável para um montão de parasitas que são faustosamente pagos para fazerem a derrocada do nosso país e não obteriam as luvas que recebem pela A32.
Já não tenho dúvidas de que o objectivo desta gentalha é criar a escravidão intelectual e emocional num povo que recebe a triste migalha a cada mês e dá Graças perdendo, pela fórmula, a Dignidade.
Mas é mais fácil comandar um povo humilhado e triste do que um povo esclarecido.
Como é referido, a construção de uma condigna via ferroviária, permitiria aumentar a mobilidade dos habitantes de EDV dentro da área metropolitana do Porto, como aumentar a concorrência sobre a Transdev (apesar de serem um parceiro no metro do porto) e possibilitava uma maior visibilidade turística de todas as regiões envolvidas.
Em vez da A32 poder-se-ia ter apostado no metro. Mais uma autoestrada qua não serve para nada enquanto o metro a sul do Porto serviria de facto a população de toda esta área.
Hugo, uma pequena correcção... a Transdev perdeu há cerca de uma ano a concessão da exploração operacional do Metro do Porto. Ou seja, aí já estamos livres do péssimo serviço da empresa. E diga-se de passagem que a qualidade de serviço do Metro está bem melhor. Deste então, nunca mais notei atrasos de maior... e número de avarias em veículos e sinalização reduziu drasticamente.
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