por António Eusébio Coimbra Amorim
Estamos a comemorar o 1º centenário da instauração da república em Portugal.
Festa e foguetório, por todo o país. Duzentas e tal bandas e tunas, segundo as noticias que nos chegam, tocaram o hino nacional simultaneamente.
Mas o que fica. Que lição queremos deixar para os próximos 100 anos??? Que testemunho tentamos transmitir às gerações futuras???
Como queremos transformar o nosso país, melhorando-o… que objectivos temos para este “bom povo à beira mar plantado” ?????
Francamente, nada ouvi de relevante dos nossos “pais” da pátria. Não sou historiador, mas sempre li que a revolução republicana, como todas as revoluções populares (incluindo do 25 de abril de 1974), teve como antecedentes o mal-estar social geral, desconfiança nas instituições, nos seus decisores, etc. Etc. E, principalmente uma revolta contra a miséria, contra a fome, contra o aventureirismo e os oportunistas.
Bem sei, que oportunistas, aventureiros sempre existiram e sempre existirão, mas convém que se criem mecanismos de controle desses aventureiros, desses oportunistas.
Também sei que nos últimos 100 anos, a educação se democratizou. O analfabetismo reduziu-se a valores que não sendo ainda aceitáveis, não são sequer comparados com os existentes no princípio do século anterior.
Da mesma forma considero que o país está mais modernizado… tal e qual, de resto, os demais países por mais miseráveis que sejam os seus povos.
Temos mais liberdade!!!!, liberdade de pensar… liberdade de reunir, liberdade de expressar…. Mas falta-nos a maior das liberdades… a liberdade de decidir… o nosso caminho.
Tal e qual o pedinte, o miserável, que poderá ter todas as liberdades, menos a de comandar a sua vida, segundo o seu pensamento, porque continua agrilhoado ao seu estômago. Fica escravo do estômago.
Não estando a nossa condição humana dispensada da função e uso de tal órgão, não poderemos suprimi-lo. Mesmo para quem considere que o instinto de sobrevivência à fome é puramente psicológico, também não podemos suprimir essa parte do nosso cérebro.
Chegados aqui, olhando para o nosso povo…, só encontro “mal-estar”, desconfiança nas instituições (saúde, justiça, educação, etc. Etc.) Até no desporto (já ninguém acredita no jogo limpo), por isso não é difícil adivinhar uma revolução próxima…
Não estou a falar de revolução sangrenta, estou a falar da revolução das urnas. É pelo voto, que se devem afastar os oportunistas e os aventureiros… em nome de um futuro mais promissor, igualdade de oportunidades para todos (seja amigo ou não do decisor).
Mas temo a intoxicação do povo. Na política, como nos mais variados campos sociais, os nossos lideres são “vendidos” como uma vulgar pasta dentífrica, sem se cuidar de apresentar as verdadeiras qualidades do produto, sem cuidar de advertir para os efeitos secundários.
A propaganda ultrapassa tudo o que seja eticamente recomendável. O que importa é que seja um “produto” vendável.
Pouco importa que seja ladrão…, pouco importa que deixe os amigos roubar descaradamente…, pouco importa que seja caloteiro…, pouco importa que seja um inapto…., pouco importa que só nomeie os seus amigos para os lugares da “administração”!!!
A ética, está pois, fora de uso. É preciso reinventar. É preciso ressuscitar a ética.
Lembro que os nossos primeiros presidentes da república, pagavam renda por ocupar o palácio de Belém, onde se instalavam. Esse é o exemplo que deve ser exaltado… temos de exaltar quem está ao serviço da nação e não os que se servem da nação.
Dito isto, hoje ao escutar a nossa “entourage” política, não revi nestes o ideal da revolução republicana ou dos três “d” de Abril. Pelo contrário, senti-me envergonhado e de alguma forma incapaz, por pertencer a uma geração, que tendo tudo para fazer cumprir Portugal, como ditou o poeta “Fernando Pessoa”, adiou esse sonho, temo mesmo que esteja, pior que enfermo, já a definhar.
Sou habitualmente optimista, não gosto de pertencer ao clube dos “vencidos pela vida”, “criado” pelo grande Eça de Queirós, por isso me custa tanto ver ao ponto que o nosso Portugal chegou.
É preciso que a ética volte a ser o bastião do regime. Sem ética não há legitimidade no poder. Não se pode, ou não se deve esperar que seja a justiça, os tribunais a decretar a ética. É o povo. É o povo que impõe, quem tem condições de curar este país enfermo.
Não precisamos de nenhum salvador individual. Não precisamos de nenhum rei, seja ele D. Sebastião, ou outro. Ninguém, individualmente consegue conduzir, cuidar de um país…. Mas um bom punhado… sim.
Não somos “ingovernáveis”, como sentenciaram os romanos.
Por isso, neste dia em que se comemora a implantação da república no país, importa cuidar do nosso futuro, das futuras gerações. Para tal, é preciso o regresso vitorioso da ética, na politica, na justiça, na economia, nas empresas, na educação e até no desporto…, afastando ou provocando o afastamento de quem se serve das instituições, de quem, por muito popular que seja, por muito poder económico ou comunicacional que tenha, vilipendie a todo o momento ética. Aviso aos mais incautos, que desconfiem sempre de quem passa a vida a falar de ética, pois, provavelmente, será um dos “abusadores do poder”.
Não é necessário promover nenhuma caça às bruxas, todos nós identificamos e falamos todos os dias de quem não tem qualquer ética, seja nos negócios, seja na politica ou nos restantes sectores da sociedade.
Esta revolução está por fazer. Que se comece já, porque já se faz tarde!!!!
1 comentário:
I Love you Mr. Coimbra Amorim.
Muito bom. Parabéns pela clareza.
Aguardaremos incessantemente, por uma acção compatível com a "denuncia" do estado das coisas neste cantinho marítimo, republicano e laico.
Será tempo de se avançar com algo mais "acertivo"?
- Resposta, à mesma hora, no local do chá das cinco...
NS
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